O Desafio da Educação em tempos de pandemia
Estudo de caso e pesquisa sobre a adoção de novos hábitos e desafios no ensino remoto em um cenário de isolamento social
Desde o início da pandemia temos enfrentado diversos desafios em relação a Educação Remota, seja para séries iniciais seja para Ensino Superior. As questões que envolvem ferramentas online, adaptação dos métodos de ensino, acompanhamento dos familiares na atividades (ensino infantil), condições e uso de aparelhos tecnológicos e materiais didáticas, mesmo após um ano de pandemia, ainda são questões delicadas e que por muitas vezes dificulta o aprendizado do aluno e a aplicação do conteúdo do professor.
Em novembro de 2020, fiz o curso de Formação em UX Research da Mergo no qual o projeto de pesquisa do meu grupo era Educação, que só foi possível graças a bolsa do UX para Minas Pretas. Uma comunidade incrível e muito acolhedora que impulsiona a carreira de diversas mulheres negras na área de UX.
O grupo era formado por mim (Larissa) e outros colegas incríveis como André Bengel, Camila Ribeiro, Júlia Medeiros e Vanessa André.
O Desafio
Durante o curso tivemos que realizar um projeto de pesquisa no qual o desafio era:
Acesso e qualidade na Educação — a adoção de novos hábitos e comportamentos no cenário de pandemia.
Tendo em vista o desafio nós partimos para criação dos objetivos do projeto:
Objetivo Geral:
Como nós podemos ajudar as pessoas que necessitam adotar novos hábitos e comportamentos sobre educação (acesso e qualidade) em um cenário de pandemia e isolamento social?
Objetivos Específicos
1º: Identificar as diferenças entre o ensino presencial e remoto na pandemia.
2º Descrever a adaptação dos métodos de ensino do professor e a adaptação da aprendizagem do aluno.
3º: Analisar os problemas relacionados aos métodos de treinamento e suporte dados pela instituição de ensino aos professores e também a performance do ensino aplicado pelo professor.
No início do projeto estabelecemos esses objetivos e durante o desenvolvimento da pesquisa, algumas coisas foram mudando em cada etapa e explicarei cada uma das mudanças mais adiante!
Desk Reasearch
Em uma busca pela internet, nos aprofundamos no problema sobre Educação e encontramos dados de pesquisas os quais dividimos em: desafios do alunos, desafios do professor, desafios das escolas e iniciativas.
Em grupo percebemos que os desafios enfrentados pelos alunos e professores eram bem difíceis, e em maioria, relacionados ao acesso às aulas e aos métodos de ensino.
Destes dados encontrados podemos destacar:
- Três a cada dez crianças em idade escolar estão sem acesso ao ensino remoto durante a pandemia (Fonte: G1)
- 64% dos professores se sentem ansiosos e maioria não está confortável com volta às aulas (Fonte: CartaCapital)
- Redes de ensino infantil precisarão de apoio de recursos digitais para continuar ensino híbrido em 2021 (Fonte: Segs)
- Segundo a Unicef, 120 milhões de crianças em idade pré-escolar (70%) estão sem ensino e aprendizagem (Fonte: G1)
Após a pesquisa, organizamos todos os nossos aprendizados em uma Matriz CSD (Certezas, Suposições e Dúvidas) que nos ajudou bastante a entender quais os grupos mais afetados com o Ensino Remoto, que são:
- crianças de 5 a 12 anos em fase de aprendizagem
- estudantes de escolas públicas em geral
- famílias as quais os integrantes trabalham em serviços essenciais e não conseguem acompanhar frequentemente os filhos nas aulas online
Nos baseamos na Desk Research e na Matriz CSD sobre quais os grupos mais afetados com o Ensino Remoto na pandemia. Esse dados nos ajudaram a identificar 3 tipos de grupos que seriam relevantes para pesquisa, por conta do tempo do projeto, escolhemos apenas 1 tipo de grupo para fazer o recrutamento e entrevistas em profundidade.
O grupo como um todo optou pela escolha do perfil Mãe Solteira pelos seguintes motivos:
- seria mais fácil conversarmos com pessoas que estão trabalhando em casa e acompanhassem as aulas remotas do filho, para entender quais os benefícios e dificuldades do Ensino Remoto;
- compreensão e clareza sobre o aprendizado do filho e as metodologias e formatos de aula utilizados pelo professor;
Segmentação da pesquisa
Para darmos segmento a pesquisa, estruturamos variáveis de segmentação para que o perfil Mãe Solteira fosse encontrado mais facilmente.
Com as variáveis definidas começamos a estruturar as perguntas do questionário de triagem para filtrar as pessoas respondentes, facilitando assim o recrutamento de pessoas para as entrevistas.
As principais perguntas de triagem feitas aos respondentes do formulário foram:
- Você é responsável por auxiliar alguma criança nos estudos?
- Qual é a frequência que você acompanha a criança nas aulas online ?
- Que formato de conteúdo a criança utiliza nas aulas?
- Qual o grau de escolaridade da criança?
- De onde você tem trabalhado durante a pandemia?
- Qual é o seu regime de trabalho?
Divulgamos o formulário em nossas redes sociais e grupos de WhatsApp para encontrar pessoas que pudessem participar da pesquisa. Ao todo conseguimos 28 respostas e quando analisamos as respostas dos respondentes, percebemos que não encontraríamos Mães solteiras, com jornadas duplas de trabalho e que estivessem disponíveis para uma conversa.
Mesmo assim, com as variáveis definidas conseguimos prosseguir com as entrevistas, logo o fator ser mãe e solteira não acabou nos impedindo de realizar a pesquisa.
As entrevistas
A etapa mais esperada e divertida são as entrevistas em profundidade 😍, pelo tempo que tínhamos para realizar as entrevistas apenas no turno das 19h30min às 22hs, conseguimos realizar 3 entrevistas das quais observamos diversos problemas tanto enfrentados pelos pais quanto pelos alunos — que no geral sofreram impactos emocionais e no aprendizado durante o ensino remoto.
As sessões das entrevistas ocorreram todas pelo Google Meets, além disso gravamos as sessões para uma análise posterior, o que nos garantiu diversos achados de pesquisa.
Debriefing
Identificando dados comportamentais comuns
Nesta etapa, tivemos bastante dificuldade de cruzar as informações obtidas nas entrevistas e extrair os insights principais. Por mais que fossem unânime o ensino remoto ter afetado o aprendizado das crianças, cada pai e mãe relatou uma postura diferente que as crianças tiveram.
A filha do nosso primeiro entrevistado optou por conta própria mudar de escola, o pai nos relatou que ela mesma dizia não conseguir aprender nas aulas online. Além disso, segundo o pai, a antiga escola da família não soube se adaptar para ensinar remotamente durante a pandemia.
Em outra entrevista, a mãe relatou que o filho desenvolveu depressão e ansiedade durante o período em isolamento, e a escola não estruturou os conteúdos passados para cada nível escolar, logo houve uma sobrecarga de aulas e tarefas que nem todos os alunos da turma do filho conseguiam acompanhar.
E por fim, em outra entrevista a mãe relatou que o filho não se envolvia muito em atividades de vídeos gravados, e preferia vídeo chamadas as quais podia interagir mais com a professora e outros alunos.
Categorização
Com os insights em mãos nós separamos em 5 categorias, essas categorias serviram de suporte para o grupo construir a persona.
Ao final de todo processo de pesquisa e análise das entrevistas, partimos para criação da persona que representaria o perfil escolhido para o recrutamento. Nessa etapa ficamos muito empolgados em ver o que tínhamos pesquisado até então e no estava se transformando.
Ao meu ver é muito interessante entender, olhar para cada parte do processo e perceber como eu me inserir e trabalhei nas análises, creio que para todo pesquisador de experiência é gratificante ver a pesquisa tomando forma.
Persona
A nossa persona representa principalmente a preocupação com a educação das filhas, a Luiza (Lu) entende o quanto a pandemia dificulta o aprendizado das meninas e ela está o tempo todo atenta para que não fiquem desamparadas.
Jornada de experiência
Para conseguirmos entender em quais etapas do processo poderíamos atuar e solucionar os problemas, mapeamos toda a jornada da Lu desde a definição do ensino remoto até o primeiro mês de adaptação das filhas nas aulas online.
Resultados obtidos
Ao final da pesquisa, analisamos todo o processo que fizemos juntos identificando nossos acertos e erros, onde executamos muito bem e onde enfrentamos maiores dificuldades. Quando voltamos aos objetivos específicos para verificar o que cumprimos ou compreendemos, chegamos nos seguintes resultados:
1º: Identificar as diferenças entre o ensino presencial e remoto na pandemia
Conseguimos identificar cada diferença e nuances entre o ensino presencial e remoto, as crianças como um todo sentiam falta do contato com seus amigos, colegas e professores. Além disso, é comprovado que para criança desenvolver suas habilidades de socialização, cognitivas e de aprendizado, a escola desempenha um papel fundamental. (Fonte: Doutora em Psicologia Juliana Callegaro Borsa)
2º Descrever a adaptação dos métodos de ensino do professor e de aprendizagem do aluno
Através das entrevistas entendemos e conhecemos as estratégias dos professores ao passar o conteúdo, ainda sim houve a sobrecarga de aulas e tarefas que dificultavam o aprendizado dos alunos.
3º Analisar os problemas relacionados aos métodos de treinamento e suporte dados pela instituição de ensino aos professores e também a performance do ensino aplicado pelo professor
Esse último objetivo foi o único que não conseguimos atingir, através das entrevistas não foi possível entender se havia problemas nos métodos de treinamento e suporte concedidos pelas escolas, e fazer uma análise da performance do professor.
Ao final encontramos 6 oportunidades para melhorar a experiência tanto dos pais e alunos, quanto dos professores durante o ensino remoto na pandemia, são elas:
Para professores e pais
- Cartilha de preparação para o EAD destinada aos pais
- Material de apoio destinado aos pais para ensinar seus filhos sobre o conteúdo passado (Resumo do conteúdo) produzido pela escola juntamente com o professor
- Vídeo aulas sobre como usar as ferramentas do EAD
- Criar um canal de comunicação para os pais compartilharem suas experiências
Para pais e alunos
- E-book com conteúdo de boas práticas para acompanhamento da criança durante o EAD
- Kanban para auxiliar na organização das tarefas e provas do aluno
O que eu aprendi com o projeto?
Aprendi que ouvir as pessoas é atividade principal em ser Designer, entender suas dores e ter empatia principalmente pela situação que estamos vivendo, a Educação enfrenta diversos problemas e o ensino remoto foi o estopim para que diversos outros problemas quanto ao acesso à internet não ser democratizado, a estrutura material tanto dos alunos quanto dos professores precisa de investimento, que o aprendizado e dores das crianças precisam ser ouvidos. Segundo estudos do Banco Mundial, divulgados dia 17 de março, a pandemia pode deixar 70% das crianças brasileiras de até 10 anos sem compreender textos simples (Fonte: O Globo).
Entendi também que o processo de pesquisa estruturado e com objetivos definidos (e que podem ser alterados no meio do caminho) facilitam o andamento da pesquisa e coleta/análise de todos os dados.
Por fim só tenho a agradecer pela experiência e oportunidade de fazer um projeto de pesquisa com pessoas incríveis que agregaram muito na minha trajetória com seus conhecimentos! Obrigada Grupo 5 de Educação💛
Quer bater um papo comigo?
Fique a vontade para me chamar no LinkedIn ou mandar um e-mail para larissa.c.raulino@gmail.com 😊
Até breve!!